20 de novembro de 2015

Desmatamento ameaça cerrado e caatinga em Minas

Fiscalização e monitoramento precários dificultam o combate à devastação dos biomas de Minas, como desmatamentos por motivos diversos, que atingem também a caatinga.

Corte ilegal de árvores em Minas cresceu 23% nos dois últimos anos. Além do desmatamento, o cerrado sofre com incêndios criminosos (foto: Mário Lúcio/divulgação).


O cerrado, que antes compunha um corredor contínuo de vegetação fechada de 108 hectares (ha) juntamente com a mata ciliar do Rio das Velhas até o ano de 2008, perdeu 3,86 ha no ano seguinte. Além disso, poucos anos depois, foi cultivada uma plantação de hortaliças, tudo isso sem licença para desmatamento ou conhecimento da fiscalização. O problema se estende também para o Norte de Minas, agravado pela seca e pelo desmatamento.

O uso de tratores e motosserras em Lagoa Santa permitiu a expansão da devastação, que chegou mais de 2,3 ha neste ano. O ritmo retrata a realidade de BH, uma das áreas de maior desmatamento em Minas. A derrubada de árvores no estado cresceu 23,4%.

A Forest Stewardship Concil do Brasil, organização não-governamental que promove fóruns sobre manejo florestal sustentável e mapeou a destruição florestal no país por meio de estudo publicado neste ano, considera ainda o Jequitinhonha, Noroeste, Norte, Sul, Sudoeste, Triângulo e Vale do Rio Doce regiões de grande desmatamento clandestino.

Segundo o monitoramento por satélite da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no período agrícola 2013/2015, a derrubada de florestas abrangia uma área estimada em 45 mil ha.

Segundo o gerente de Monitoramento de Vegetação e Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Waldir Melo, o corte de recursos humanos e financeiros coincidiu com a perda da órbita de um dos satélites que cediam imagens ao departamento, o Land-Sat.




“Desde 2010, não se investiu mais no setor de monitoramento e ainda perdemos 20 dos 26 técnicos que faziam os trabalhos. Com isso, só chegamos a 27 mil hectares desmatados, mas o erro é estimado em 35% para mais áreas devastadas”, afirma Melo. Sem as ferramentas de monitoramento e fiscalização ficamos prejudicados. “É um setor estratégico que vive do esforço da equipe restante”, disse.

A tática dos desmatadores é alterada em determinadas regiões: em vez de abrir clareiras na mata, as motosserras cortam a floresta nativa próxima a plantações de eucaliptos e misturam a madeira que segue para alto-fornos de siderúrgicas e indústrias de celulose.

Num desses desmates, uma área de 233 ha de cerrado, próxima ao Parque Estadual do Sumidouro, perdeu 97 ha em cinco anos. “Tem sido muito comum: desmata-se o eucalipto e adentra-se a mata nativa. O setor está numa corrida, porque a partir de 2018 não será permitido exceder o percentual de 5% de mata nativa para o consumo de alto-fornos. Isso terá de ser substituído por eucaliptos, que precisam ser plantados logo, pois  levam sete anos para corte”, alerta Walter Melo.

A perda de vegetação nativa afeta os três biomas dominantes em Minas, que, de acordo com o IEF, chegam a 33,12% do território. Ainda restam 57,44% da caatinga, 39,44% do cerrado e 23,26% da mata atlântica originais. Além de garantir a biodiversidade, a vegetação impede assoreamento de rios e córregos, protege nascentes e áreas de recarga dos mananciais que abastecem o estado.

Na comparação com a cobertura vegetal de 2003, Minas perdeu 2,7% de sua área de florestas nativas. A devastação também ocorre nas unidades de conservação, como o Parque Estadual Caminho dos Gerais, única área de proteção da caatinga, no Norte de Minas, que perdeu 103 ha entre 2001 e 2013, segundo a ONG Global Forest Watch, e a Área de Preservação Ambiental Carste de Lagoa Santa, que diminuiu de 611 ha no mesmo período.


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