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Matopiba é a nova fronteira agrícola brasileira (Foto: Ernesto de Souza/Editora Globo) |
Entre junho de 2014 e junho de 2015, o Cerrado perdeu 3448 km² de
vegetação nativa segundo o recém-coletado dado do Sistema Integrado de Alerta
de Desmatamento (SIAD-Cerrado). No
cerrado, o desmatamento está concentrado na região que é tida como a nova fronteira
agrícola brasileira, chamada de Matopiba,
e engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Adriano Faria, pesquisador de Análises
Ambientais da Universidade Federal de Goiânia (UFG), acredita que há um
incentivo governamental para desmatar o Cerrado dessa região. “O governo acaba
sendo contraditório, porque a fala é de combater o desmatamento, mas o modelo
de desenvolvimento da região é baseado nele”, diz Adriano, que classifica a
região como a área de Cerrado mais preocupante em termos de devastação. Isso
porque o território ainda concentra grande quantidade de vegetação preservada.
Os últimos dados do SIAD também registram
zero desmatamento em estados como São Paulo e Paraná. Porém, segundo Adriano
Faria, isso é uma consequência do tanto que a área já foi explorada, e não um
sinal de que o bioma está sendo preservado. “Na região central e sul do país já
se desmatou tanto que não há como manter o ritmo acelerado de desmatamento”,
diz. “É uma região em que esses números tendem a diminuir”.
Fora isso, há ainda os estados
pertencentes a Amazônia legal, como Mato Grosso e Tocantins, que seguem o acordo
da Moratória da Soja, um
acordo agrícola para não comprar soja oriunda de áreas de devastação. O
problema é que a Moratória só serve para a Amazônia, excluindo outros biomas.
E, segundo o pesquisador, isso afeta o Cerrado negativamente porque há a necessidade
de aumentar a eficiência da produtividade e de ocupar novas áreas. “Muitas
pessoas que estão na Matopiba vêm do sul ou do Mato Grosso”, afirma.
O pesquisador acredita que o desmatamento
nessa região ainda aumente nos próximos anos. Isso porque Matopiba tem boas
condições naturais para a agricultura. “Não posso afirmar que os números vão
aumentar, mas a região é perfeita para o agricultor. É uma região plana e farta
em recursos hídricos, e está dentro desse modelo de desenvolvimento”, diz Adriano.
Estudiosos enfatizam que o Cerrado é tão
importante quanto a Amazônia. Além de grande diversidade biológica, concentra
muitos aquíferos e espécies endêmicas já ameaçadas. Desde 2002, primeiro ano
com dados coletados pelo SIAD, já foram devastados 67.662 km². Com isso, além
de afetar a biodiversidade, áreas de nascentes de bacias hidrográficas podem
ficar comprometidas e o ciclo da chuva pode ser alterado.
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Bioma Cerrado (Google) |
“Deveria haver mais incentivo para a
preservação do Cerrado. Também me preocupa a falta de fiscalização, porque o
Brasil monitora muito mal os biomas que não são a Amazônia”, afirma Adriano.
“Sabemos que preservação e desenvolvimento econômico não se opõem, sempre
existem novas tecnologias e novas formas de manejo. Nunca é tarde para começar
as coisas”, diz.
Os 3448km² de desmatamento do Cerrado
somam-se aos mais de 5800 km² de destruição da Amazônia entre 2014 e 2015, um
aumento de 16% em relação ao período anterior. Segundo a pesquisa Terraclass
Cerrado, restam 54,5% da vegetação nativa do bioma.
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